Corpo exposto, superfície do indizível

O que você interpreta ao ver esta imagem?

Não há vaidade nesse traço. Há denúncia.

Há o corpo como última superfície possível para dizer o que nunca pôde ser dito.

Porque não é só um desenho, é o contorno de um vazio. Uma tentativa de dar forma àquilo que apertou antes mesmo de existir.

O que vemos é o eco de um feminino antecipado, imposto, arrancado antes da hora. É a menina que precisou virar mulher sem querer.

Sem tempo. Sem escolha.
É o amadurecimento forçado.
O corpo cobrado.
O desejo calado.

O sutiã riscado onde não há seio é o símbolo de uma expectativa social que não espera o tempo da subjetivação.

É o real da infância violada pela pressa, pela projeção, pela normatividade que exige forma, peito, postura… Mesmo que, por dentro, ainda habite o estranho.

Esse corpo desenhado grita o que ninguém quis escutar:
“Me foi pedido que eu fosse algo antes mesmo de saber quem sou.”

E o mais cruel?

Mesmo com o traço exposto, poucos enxergam.
Porque o que é estrutural se naturaliza.
E o que é feminino se romantiza.
E a dor vira silêncio bem-comportado.

Mas esse risco… torto, urgente, infantil… é sintoma.
É o inconsciente dizendo: “Isso não passou.”
É o corpo tentando elaborar o que não coube em palavra.

Trazemos no corpo a inscrição de uma história que nunca teve lugar de fala. Para que um dia, talvez, o desenho possa se transformar em palavra.

Não para apagar o que foi vivido, mas para que a dor encontre uma forma de existir que não precise mais ferir.

Esse traço é pergunta, não resposta.
É ato, não símbolo.
É sobrevivência.

Ainda somos uma sociedade que exige que meninas virem mulheres antes do tempo.
Que o corpo feminino seja suporte de tudo, menos do próprio desejo.

Agora olhe novamente.
Olhe com olhos atravessados.

O que você viu no início…é o mesmo que vê agora?

Explore mais...