Entre Dizer e Se Dizer: O Que Há Entre as Palavras

Quando pensamos no ato de se expressar, o que realmente está em jogo? Não se trata apenas de falar. Falar é o que fazemos, mas o que há, na verdade, no espaço entre o dizer e o ser dito? Como as palavras conseguem, muitas vezes, se distanciar daquilo que realmente sentimos, pensamos ou desejamos? Em um gesto tão simples como falar, está a complexidade do ser humano, um movimento silencioso entre o que se quer dizer e o que ainda não se sabe dizer.

Este movimento não é algo que acontece apenas nas sessões de análise. Ele se estende ao cotidiano, nas conversas mais simples, nos olhares que trocamos, nas reações que temos. Todos os dias, nós nos confrontamos com o que somos e com o que conseguimos comunicar aos outros. O que não se diz, o que não se entende, o que se tenta ocultar… tudo isso revela mais do que uma explicação pronta seria capaz de revelar.

O que significa, então, se dizer? Não é algo linear, não é uma fórmula. É, na verdade, um desdobramento, algo que se revela e se oculta ao mesmo tempo. Às vezes, as palavras falham, outras vezes, elas se tornam pontes para o entendimento, mas sempre estão em movimento. Talvez não possamos realmente controlar o que dizemos, mas o fato de dizermos algo já está nos colocando em um lugar de possibilidade. E essa possibilidade não é fixada, não se resolve em respostas definitivas. Ela está na tensão do não dito, na ambiguidade do que nos escapa.

É justamente no movimento entre o que conseguimos dizer e o que sentimos, entre a expressão e a percepção, que a psicanálise encontra seu campo de ação. E aqui não há soluções prontas, apenas a possibilidade de entender o que se esconde nos cantos da fala, nas pausas, nos silêncios. Este processo não é um caminho reto, mas um desenrolar constante de tentativas, tentativas essas que nunca deixam de ser reveladoras.

A vida, assim como a análise, nos convoca a uma constante reinterpretação. Em cada gesto, em cada palavra, em cada relação, nos confrontamos com a possibilidade de algo mais se mostrar ou de algo mais se esconder. A psicanálise nos provoca a olhar para o que está entre as palavras e, talvez, perceber que as respostas não são aquilo que já sabemos, mas sim o que ainda não fomos capazes de expressar.

Se dizer é um ato que nunca está completo. É uma travessia que não chega a um ponto final, mas segue em frente, mesmo sem saber exatamente onde nos levará. A cada novo momento, um novo reflexo de quem somos surge, como um eco que ainda ressoa, desafiando-nos a nos compreender, sem nunca esperar uma explicação definitiva. O que se diz revela apenas uma parte, e é justamente nesse espaço entre o dito e o não dito que reside o convite à transformação.

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